quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011



Paris com o Fred, 14, 15 e 16 de janeiro de 2011.

Chego em Paris em uma sexta-feira à noite, muito bem recepcionada pelo querido amigo Frederic Monie, um francês-cosmopolita cheio de bom humor e conhecimento pra dividir, dar e vender!

Todos esses atributos fizeram da viagem uma mescla deliciosa para conhecer a cidade de uma forma mais profunda, cheia de informações precisas sobre os lugares, costumes e política; mas também com ótimas doses de boa música e gargalhadas de doer a bochecha!

As análises sobre as relações sociais e os grandes problemas que as grandes metrópoles apresentam em suas devidas proporções saltam aos olhos de quem afia o olhar. Caso cont

rário, Paris será sempre linda, charmosa e ponto final. A imigração, intolerância, pobreza e diversas outras variantes têm gerado conflitos turbulentos e sérios. Coisas que não acompanhamos nos jornais, e que eu não pude ver em apenas um final de semana. Falo através de um ponto de vista cru, um pouco sem sal nem maturação, mas certamente um ponto de vista que pode perceber que estamos produzindo um mundo globalizado, que ao mesmo tempo que une, impõem padrões, criam novos obstáculos sobre o que é um mundo de fato global.

Cor da pele separa. Mas quem tem a mesma cor de pele e não fala a mesma língua, separa. Religião sempre separou. Habitação é separada por zonas. A informação do seu documento: sua o-r-i-g-e-m, separa. E por aí vai. Variáveis que “não se combinam” seguem o fluxo atormentador da cidade, que garante o seu movimento pelo nosso tão bem afiado “blasé”. Se não fosse por isso, haveriam mais “acidentes humanos” nos trilhos de trem parisienses (uma das cidades com índices altos de suicídio em linhas de trem/metrô. “Acidente humano é o termo utilizado pelos operadores das companhias justamente para livrar a culpabilidade da companhia por qualquer atraso causado). Desolé¹... O pedido de desculpas à francesa para absolutamente tudo: desde o atraso do metrô até a palavra que irão usar no velório do suicida; na falta de um produto na loja, até o esbarrão da mala de um transeunte (ver abaixo) em você, sinto muito... “É POR ISSO QUE FRANCÊS É UM POVO DESOLÉ”. Essa foi a primeira pérola de sabedoria apresentada pelo Fred logo no início da viagem, quando falávamos dos conflitos sociais enquanto ouvíamos um “jê suis desole”, já que não haviam mais taxis para sair do aeroporto após as 11 da noite...

Mas graças ao nosso espírito blasé, sabendo parcialmente de tais atrocidades que o preconceito, racismo, xenofobia, intolerância religiosa, etc causam nesta vida citadina, fomos almoçar em lugares deliciosos. Experimentei o escargot, um aperitivo nota 10, seguido de pato e cordeiro. Tudo acompanhado com um vinho muito bom e das bem humoradas pérolas de sabedoria do Sr. Monie: “AQUI NA FRANÇA NÃO TEM VINHO TINTO RUIM. NEM MENDIGO TOMA VINHO TINTO DOCE!”. Provo e aprovo.


O outro cardápio fabuloso foi em um restaurante Senegalês. Aaahhhh!!

O lugar é uma simpatia. Logo na entrada havia um homem cheio de sorrisos para nos receber. Chegamos cedo, pudemos escolher o lugar, mas quando saímos já não haviam mais cadeiras!

Um ambiente que parece mais a sala de jantar de uma avó: móveis de madeira, um dos bancos para sentar era coberto por um tapete (!!!), frutas e flores artificiais por toda parte, principalmente girassóis, um único cabideiro para pendurar os casacos – o que deixou uma senhora francesa muito incomodada com a chegada de um bando de brasileiros espalhafatosos que puseram o seus casacos sobre o dela, amassando drasticamente a sua preciosa vestimenta. O sábio Fred não se indispôs e soltou mais uma das suas pérolas de sabedoria: “não tirem os casacos. Quem não sabe conviver que se incomode!”. E assim nos acomodamos, afinal de contas, estávamos adorando com-viver naquele lugar. E saborear também: como entrada comemos banana frita com molho apimentado (delicioso!) e uns bolinhos de peixe que o Fred lembrará o nome. Pratos principais: cordeiro ao molho de amendoim, frango ao molho de limão bem apimentado, e um peixe cozido. Tudo acompanhado de dois tipos de arroz, um deles era picadinho feito com um molho vermelho.

Uma beleza de sabor, preço e atendimento. Sim, o atendimento poderia ser melhor (ainda mais para os parâmetros brasileiros de simpatia, agilidade e prontidão), se não fosse o atraso do meu suco de flores e o peixe ter sido servido morno (definitivamente não estava quente).

O lugar?

Restaurant Le Nioumre – Le meilleur dês saveurs africaines.

7 rue dês poissonniers 75018 – Paris

Mº Chateau-rouge ou Barbès

Tél: 01 42 51 24 94

Email: nioumre@hotmail.com

Andar de metrô em Paris é fácil. E não é. O serviço é muito bom, mas sempre tenha um mapinha em mãos, pois existem muitas possibilidades de fazer baldeação, o que também te permite dar voltas e gastar um tempo desnecessário.

No transporte público foi interessantíssimo perceber como os rostos, tonalidades e diferentes línguas se modificam na medida em que você passa próximo a determinados bairros. A constante sutilmente percebida pelo amigo cosmopolita foi que a cada 10 pessoas que estão no metrô, ao menos 7 irão portar uma mala. “Por isso que parisiense é um povo mala”, diz o Fred, com o seu humor ácido.

Os principais pontos turísticos de Paris fomos sempre à pé. Os pontos não tão principais, fomos à pé. No pior das hipóteses em relação à distância, andávamos algumas estações de metrô (para o meu consolo!).

É importante dizer que Fred acabara de chegar de uma viagens de semanas por vários lugares da África (não saberei exatamente os nomes das dezenas de lugares visitados por esse viajante), mas ele estava ligado no 220 wtls, certamente com os músculos tonificados e uma energia invejável. Já eu, acabara de chegar na Itália, depois de uma temporada de engorda na Suíça, conhecendo queijos, vinhos e chantilly com o dobro de gordura! Percebem o meu desespero? Acho que depois de tudo isso, um nervo do meu tornozelo saiu do “eixo” e tenho sentido dores estranhas...

Bom, na melhor das hipóteses, fiquei muito treinada para os dias que seguiram em Bergamo, Milão e Veneza. Minhas empreitadas autônomas.

Ainda em Paris, tudo com o sabor da descoberta, apesar de ter sido a segunda vez na cidade. O encontro dos amigos, fazer novos amigos, comprar uvas de madrugada na rua, encontrar um barzinho de jazz no sábado à noite e um café delicioso próximo ao Sacré Cceur num final de tarde do domingo... Sou contemplada!

Seguindo um exemplo de Bergson para explicar a vivência da filosofia, Manuel Garcia Morente escreve:

Uma pessoa pode estudar minuciosamente o mapa de Paris; estudá-lo muito bem; observar, um por um, os diferentes nomes das ruas; estudar suas direções; depois, pode estudar os monumentos que há em cada rua; pode estudar os planos desses monumentos; pode revistar as séries das fotografias do Museus do Louvre, uma por uma. Depois de ter estudado o mapa e os monumentos, pode este homem procurar para si uma visão das perspectivas de Paris mediante uma série de fotografias tomadas de múltiplos pontos. Pode chegar, dessa maneira, a ter uma idéia bastante clara, muito clara, claríssima, por menorizadíssima, de Paris. Semelhante idéia poderá ir aperfeiçoando-se cada vez mais, à medida que os estudos deste homem forem cada vez mais minuciosos; mas sempre será uma seimples idéia. Ao contrário, vinte minutos de passeio a pé por Paris são uma vivência”. (M.G.Morente, 1943).²

Eu vivi Paris.



NOTA 1: désolé : 17 synonymes.

Synonymes accablé, affligé, attristé, chagriné, confus, consterné, contrarié,déchiré, désespéré, éploré, inhabité, navré, peiné, sauvage, stérile, tourmenté,triste.

Tradução: 1. (apparence) desolado; árido 2. (état émotionnel) angustiado; aflito; agoniado 3. (lieu) desolado; deserto

4. (sentiments) desolado; desconsolado; inconformado; inconsolável 5. (conduite) envergonhado; desconcertado; desconfortável 6. (chagriné) aflito; perturbado; desolado

7. (conduite) sinto muito; desculpe

FONTE: www.dictionarist.com (02/02/11)

NOTA 2: Leitura do Livro “Fundamentos de Filosofia”, de 1976, da Editora Mestre Jou – São Paulo. Este livro era da minha avó Magdalena, que agora está amarelado e com alguns furos de traça. Estou lendo com gosto, vendo os pequenos “x” que ela marcava as partes que achava importante do livro, as minhas anotações de faculdade e, na contra capa, a minha letra “da vó Magdalena Gentille Rodrigues – 2000” e a escrita de minha mãe “Katucha”, que encapou o livro com um (cafona) plástico azul, que não tenho coragem de trocar!!